7 de maio de 2007

Visita ao bordel - Pere Quart

Tradução de um poema do catalão Pere Quart, pseudônimo do poeta Joan Oliver (1899-1986). O próprio poema se apresenta como uma tradução, mas é na verdade, conforme pesquisamos, de autoria do poeta. O aviso final é parte integrante do poema e tudo indica que o autor mencionado na epígrafe, Färs Tabrïz, seja fictício. Esse jogo de espelhos e máscaras certamente visava proporcionar ao seu autor, Joan Oliver, que está por trás de Pere Quart, que por sua vez está por trás de Färs Tabrïz, que estão todos aqui desmascarados na tradução de Fábio Aristimunho, uma maior liberdade de criação dentro de uma temática que beira o grotesco.

Visita ao bordel

........Do poeta iraniano de expressão francesa Färs Tabrïz (1914-1975)

O alcoviteiro mostra-me as pupilas
- este hotel, na verdade, é um bordel -,
que, qual soldados, formam duas filas.

- São feias e, pior, sujas - indulta-as
o homem. - Mas lhe garanto, e é o que importa,
que todas são filhas de puta e putas!

Então entramos num dos aposentos
e estranho tenha sido ele invadido
por escadas, tabuões e escoramentos.

- Os meus clientes - diz o proxeneta -
gostam de fornicar dependurados
neste andaime de obra -, ele alcagüeta.

E eu digo: - Tudo é gosto, tudo é gosto,
mas deve haver o risco da tontura.
Há gostos que dão margem ao desgosto!

- Sexo tem, como tudo, as suas modas
- declara o cafetão, dissimulado -,
mas meu negócio corre sobre rodas.

Então me ocorre, sem muita porfia,
perguntar sobre um ponto especial:
- A toalete, em vaso ou em bacia?

- Traste, então é isso! - urra o cafajeste.
- Você é só um inspetor de merda
que vem tomar o tempo que me reste!

Como fiz outras vezes noutras bases,
com gesto calmo e cabisbaixo, calo-me
e solto, em vez de gritos, certos gases.

. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .

(Aqui abandonei a versão, paralizado e fastidiado pelos crescentes excessos escatológicos do original.)

Trad. Fábio Aristimunho


O original:

Visita al bordell

........Del poeta iranià d'expressió francesa Färs Tabrïz (1914-1975)

L´alcavot em presenta les pupil.les
-aquest hostal, de fet, és un bordell-,
que formen, com soldats, en dues files.

I l´home em diu: -Són lletges i, a més, brutes,
però us puc garantir, i és el que val,
que totes són filles de puta i putes!

Llavors entrem en una de les sales
i veig que és envaïda estranyament
per tot de cavallets, taulons i escales.

-Als meus clients -m´explica el proxeneta-
els plau de fer l´amor encimbellats
en aquesta bastida de paleta.

Jo que faig: -Tot són gustos, tot són gustos,
però el perill deu ser que els rodi el cap.
Hi ha gustos que originen prou disgustos!

-El sexe té, com tot, les seves modes
-declara el pinxo sorneguerament-,
però el negoci em marxa sobre rodes.

De sobte se m´acut, bé que amb desgana,
d´inquirir sobre un punt especial:
-La neteja, en bidet o en palangana?

-Ara us veig, malparit! -brama el macarra-.
Vós sou només un inspector merdós
i heu vingut a esbotzar-me la guitarra!

Com he fet d'altres cops en semblants casos,
amb gest modest i pesarós, cap cot,
callo i li endinyo, en lloc de crits, certs gasos.

. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .

(Aquí vaig abandonar la versió, paralitzat i fastiguejat pels creixents excessos escatològics de l'original.)

Pere Quart


P.s.: Aproveito para agradecer à tão prestativa e simpática ajuda que tive do pessoal da Biblioteca d'Abrera, na pessoa de Yolanda Villalón Serrano, e de Sergi Draper, da Biblioteca Guinardó, ambas bibliotecas de Barcelona, sem cuja pesquisa detetivesca e apoio à distância não teria descoberto a epígrafe e as máscaras não cairiam como flores.

7 comentários:

Anônimo disse...

oi!

ficou lindo, parabéns! adorei o agradecimento às bibliotecárias.

linkei no Peixe. beijinhos todos

Lunna Guedes disse...

Oi moço...
Te encontrei aqui por causa da Ana.
Não sou muito fã de traduções porque acho que a gente acaba fazendo um novo poema, por mais que nos dediquemos a origem.
Sou suspeita porque estou trabalhando com Emily Dickinson e acabo tendo que traduzir algumas coisas, mas sofro com isso (não com a tradução em si, mas com o fazer).
Abraços.
Vou linkar você...

Geraldo disse...

Fábio, como sempre suas escolhas são ótimas. Faz um livro aí, que já dá, e a poesia catalã no Brasil aposto que agradeceria.

Acho que eu deixaria só 'cagüete', e 'que me reste' ficou estranho, eu repensava. Abração!

Anônimo disse...

Valeu, Fábio, muito bom. Tomara que essa antologia de traduções saia em breve.

Abraço,
Victor

Lunna Guedes disse...

Interessante o que disse sobre tradução. O olhar além de outros olhares. A possibilidade a partir de uma já existente.
As nossas dinâmicas vertem sensações.
Eu realmente admiro Alvaro de Campos, o qual leio e estou sempre as voltas com ele. Mas há outros poetas que fazem sombra aos meus pensamentos, por hora é a Pessoa de Álvaro.
Abraços e bom final de tarde.

Unknown disse...

Muito legal essa tradução.
Fico feliz de ter retomado esse trabalho, tomara que o livro venha logo.

Fábio Aristimunho disse...

Pessoas, obrigado pelos comentários. Vou pensar no seu comentário, GG, bem pertinente aliás.

a/b