29 de outubro de 2006

De novo poesia infantil

Mais um poema da série poesia infantil para adultos infames. Se ninguém lembra (ou ninguém viu), faz um tempo eu postei aqui o poema da nuvem, dessa mesma série.

Carpe diem


Cantiga do insone

– Carneirinhos, carneirinhos,
de onde é que vocês vêm?
(Eram quatro carneirinhos
que pulavam muito bem.)

Um carneirinho brincando,
dois carneirinhos correndo,
três carneirinhos pulando
o cercado da fazenda!

Mas o quarto carneirinho
tinha medo de errar,
preferia estar sozinho,
não queria nem tentar.

– Vem com a gente, carneirinho!
Quero ver você também!
Pula, pula, carneirinho,
que esse sono não me vem.

– Carneirinhos, carneirinhos,
aonde é que vocês vão?
Carneirinhos, carneirinhos,
vão pulando o meu colchão...

.....Fábio Aristimunho

25 de outubro de 2006

Balada da Balada Literária

Da Balada Literária eu só peguei a balada. Literatura zero: não vi nenhuma mesa, nenhum livro, nenhum piti de poeta. Mas quem pode falar com conhecimento de causa são o Peixe de Aquário e o Fotón; já a mim só cabe difamar o filme alheio com a minha lente.

Sábado à noite? Que sábado à noite?...

escadinha

como sinuqueiros dão mesmo é pra poeta

"ra-ra-ra, Bagathielasch vai ficar!"

muvuca

sim, HA existe

Copan? que Copan?

18 de outubro de 2006

Palindroemas

Admito: sou um fanático por palíndromos. Palindromaníaco mesmo. Até já pensei em fundar uma associação de palindromistas anônimos (A.P.A.)!...

Compulsão à parte, sempre achei que alguns palíndromos, por sua expressividade sintética, são como versos avulsos, verdadeiros poemas de um verso só.

Partindo dessa idéia, experimentei juntar palíndromo com poesia e ver no que é que dá. O resultado aí está: arte-letra.

Ame o poema!


PALINDROEMAS

1. pessoana
a ira cá bate: tabacaria

2. depois do porre
– aí, dr., ardia

3. mistério no escritório
memos somem...

4. quem foi?
eu que.

5. Luana vai à aula
aula da nula, aluna da lua

6. pontinho verde na frente do presídio?
– ah, livre ervilha!

7. a idade da farra
(a da fase safada)

8. paradoxo da ilha deserta
anotem: meto na...

9. direção ofensiva (e homofóbica)
errado dar ré

10. mpb
a letra é arte lá

11. fome zero
o spa local a colapso

12. terra
mesmo com, sem

.....Fábio Aristimunho

16 de outubro de 2006

Paulo Ferraz rompe o silêncio

Nesta terça-feira 17/10, o amigo e poeta Paulo Ferraz, autor de Constatação do Óbvio, será o entrevistado do projeto Rompendo o silêncio. E é claro que o medianeiro estará presente, aguardem-se as fotos!

*

Rompendo o Silêncio, com Paulo Ferraz
17/10, terça-feira, a partir das 19h
Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Literatura e Poesia
Avenida Paulista, 37

15 de outubro de 2006

A vida como um quarto de hotel


A FLAP continua rendendo frutos: no sábado (re)conheci a blogueira e prosadora Victoria Saramago, que eu já tinha visto na FLAP-Rio, em julho. Ela veio a São Paulo com uns amigos – em especial o Renan Ji, que é das Letras, gente boa – para a Bienal e demais circuito museológico-cultural.

O blog da Victoria dá voz a um quarto de hotel da Rua da Glória, no Rio, tudo a pretexto de cronicar e resenhar, refletindo coisas como Plutão, um livro do Mirisola e a vida alheia. Bem legal.

Na foto, um atestado da hospitalidade dos “paulhischtasch” aos colegas flapeanos que não hesitam em se socorrer da gente: Geraldo, Victoria, Renan, Ju e Fábio no Dedo de la chica (só faltou o Caqui, que logo depois seria acordado e convocado para o narguilê).

Não somos todos, afinal, como pequenos quartos de hotel à espera de hóspedes que paguem nossa diária? Sendo assim, espero que a estada três estrelas tenha sido boa, já confirmando minha reserva no Rio para breve! rs

Carpe diem, e até o próximo narguilê.

11 de outubro de 2006

Fotos do lançamento

Conforme anunciado, ontem foi o lançamento do Oitavas, o mais recente título do selo Demônio Negro, que manteve o belíssimo padrão artesanal.

Sobre a literatura artesanal, aqui tem um artigo bem legal a respeito.

Fotos de ontem, na Casa das Rosas:

as testemunhas

Paulo Ferraz

Elisa Buzzo, Victor Del Franco, Ana Rüsche e Vanderley Mendonça

Parabéns mais uma vez aos responsáveis por essa bela edição, aguardando ansiosamente pelos próximos títulos!

10 de outubro de 2006

Lançamento hoje

É hoje o lançamento do Oitavas, antologia de poetas contemporâneos do Selo Demônio Negro: Casa das Rosas (Av. Paulista, 37), a partir das 19h. Não percamos!

6 de outubro de 2006

Dia(s) do poeta

Existe dia pra tudo, se pra tudo existe um dia. Até o poeta (olha o palíndromo!) tem seu dia. Mas que todo dia devia ser dia do poeta, alguns talvez dirão; já outros, com complexo de cacto, diriam certamente que nenhum dia é bom pra ser poeta, hoje em dia. O fato é que existem nada menos que dois dias do poeta no calendário oficial, ambos no mês de outubro: um regional e tradicional, dia 4, e outro “mundial”, dia 20. Não faço idéia do porquê dessas datas.

Eis que no dia 4 recebo um telefonema da minha irmã Tania, de Foz do Iguaçu, me dando parabéns pelo dia e pela entrevista no jornal. Entrevista? Que eu soubesse não tinha dado, pelo menos não sóbrio. Mando um e-mail para o jornal e descubro que a Daniela Valiente, simpatissíssima jornalista da pauta cultural, reaproveitou umas partes da entrevista que fizemos no ano passado, quando lancei meu Medianeira em Foz. Ah, bom.

Assim, em atrasada (ou adiantada) lembrança ao dia do poeta, reproduzo a seguir a íntegra do referido artigo, já agradecendo à autora pelo inesperado recuerdo.

Carpe diem!

*

No Dia do Poeta, escritores ensinam como fazer um belo verso cheio de sentimentos

Daniela Valiente

Um poeta é um homem trancado dentro de um mundo, disse uma vez um pensador. Mas esse mundo não é o mesmo de todos. Ele traz a força de muitas palavras e o talento de colocá-las a serviço dos sentimentos. No Dia do Poeta, o Caderno 2 faz uma homenagem a todos os poetas que vivem nesse mundo tão cheio de realidade , e mesmo assim conseguem fazer do silêncio, uma bela e fina prosa.
Para fazer poesia, o escritor pode tentar seguindo algumas regras, mas geralmente ela surge num impulso. Não havendo receita para colocar as palavras de acordo com o que se sente, é preciso sensibilidade. Para cada poeta descoberto, e não citamos os medalhões, basta um sentimento, para fazer aflorar, versos, estrofes e rimas.
Cada qual com sua técnica, afirmam para fazer poesia é preciso estar distraído, tal como fez Clarice Lispector. Para a poetisa Jeane Hanauer, a poesia a tomo de assalto, numa espécie de susto, “quando dei por mim já havia escrito”. Sensível, ardente, feminina e voraz, as palavras trouxeram a Jeanne a possibilidade de expressar o turbilhão de diferentes sentimentos.
Como marca registrada, o poeta revela-se através de suas intenções. Como fez o poeta Nilton Bobato, ao revelar; “a poesia é praga que gruda na gente”. E gruda mesmo, como um uma tatuagem inacabada, precisa sair de dentro de cada um para ver sua imagem estampada no papel.Sem tempo marcado, a poesia, ou a vontade em se fazer poesia surge em momentos inesperados e até mesmo sem nenhum conhecimento sobre a técnica é preciso ter e papel e caneta por perto.
Marizete Zanon, poetisa premiada diz ter começado com essa amizade muito cedo. “Comecei a me interessar por poesia aos sete anos de idade”, comenta. Mas o gosto surgiu prematuro porque veio de dentro de casa. Seu avô gaúcho era poeta e trovador e foi o único a incentiva-la. “Ninguém dava bola”, lembra bem humorada. Hoje muito mudou em sua poesia. “Teve o amadurecimento do sentimento. Hoje a poesia é minha confissão”.
Por tocar em diversos temas, a poesia, segundo Marizete possibilita a conversa íntima de assuntos que vão do romantismo ao épico, do lírico ao social.
A poetisa teve na formação de seus versos uma ajuda muito especial além do avô. Mário Quintana. “Lia muito o que ele escrevia toda vez que podia passava em frente da casa dele em Porto Alegre. Sempre estava lá sentado na varanda”, lembra. Mas a aproximação nunca passou de longos olhares da adolescente. “Eu ficava olhando, mas ele era muito mal humorado”.
Quintana sabia o que fazia, e quem influenciava. Ele mesmo escreveu: “eu sou um homem fechado. O mundo me tornou egoísta e mau. E a minha poesia é um vício triste, desesperado e solitário. Que eu faço tudo por desabafar”.
Marizete aprendeu a lição e hoje confirma que para se fazer poesia , seguindo uma receita, basta misturar sofrimento, à alegria, à guerra de convenções e uma pitada de ironia.
Outro poeta, Fábio Aristimunho Vargas, revela o mesmo sentimento ao declarar que a poesia depois de pronta cria vida. “Ela cria independência. É o receptor que define seu valor e sua função. Afinal poesia é uma necessidade intrínseca, por ser arte não tem valor em si, ela envolve um complexo de valores humanos. Por isso não se pode dizer que é boa por isso ou por aquilo”.
Portanto não basta vontade é preciso permanecer intocável pelas partículas mínimas de sentimento que formam a poesia. Não basta querê-la é preciso também merecê-la.Na doce ou ardorosa convivência entre poeta e composição, Quintana também ensina mais uma lição; “Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, não quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio...”.

(Gazeta do Iguaçu, 04 de outubro de 2006)

5 de outubro de 2006

Lançamento – Oitavas

Nessa coletânea estarão, entre outros, os amigos/poetas Ana Rüsche, Paulo Ferraz, Victor Del Franco e Elisa Buzzo. O editor é o catalanófilo Vanderley Mendonça. Imperdível!


Aguardem para breve a coletânea de traduções do selo Demônio Negro, de que fará parte o medianeiro que aqui escreve.

Ainda Quevedo

Mais uma transversão:

Ensina a morrer antes e que a maior parte da morte é a vida e esta não se sente, e a menor, que é o último suspiro, é a que dá pena

Trad. Fábio Aristimunho

Senhor Dom João, como só em febre ateias
algum calor ao sangue desmaiado,
que, pela muita idade, consternado,
treme, e não pulsa, entre artéria e veias,

pois de neve as cimeiras estão cheias,
o sorriso, dos anos saqueado,
o olhar, doente, em noite sepultado,
e as forças andam a exercício alheias,

caminha a receber a sepultura,
acariciar o túmulo e o lamento,
que morrer vivo é a última ventura.

Da morte a maior parte é um momento
que se passa entre risos e loucura,
e à menor se destina o sentimento.


O original:

Enseña a morir antes y que la mayor parte de la muerte es la vida y esta no se siente, y la menor, que es el último suspiro, es la que da pena

Francisco de Quevedo

Señor don Juan, pues con la fiebre apenas
se calienta la sangre desmayada,
y por la mucha edad, desabrigada,
tiembla, no pulsa, entre la arteria y venas;

pues que de nieve están las cumbres llenas,
la boca, de los años saqueada,
la vista, enferma, en noche sepultada,
y las potencias, de ejercicio ajenas,

salid a recibir la sepoltura,
acariciad la tumba y monumento;
que morir vivo es última cordura.

La mayor parte de la muerte siento
que se pasa en contentos y locura,
y a la menor se guarda el sentimiento.

1 de outubro de 2006

Notícia de Nabokov

Extraído do livro Medianeira, p. 38.

Notícia de Nabokov

Caçador mata vovó e come a chapeuzinho.
A menina deu
a cestinha
para o lobo-mau.