1 de setembro de 2006

Um louro, um mouro, um mico e um senhor de Porto Rico

Agora um poema divertidíssimo, de um anônimo do séc. XIX, em catalão. Parece que ele foi musicado recentemente, mas ainda não encontrei a música - se alguém tiver uma pista mande pra mim.


UM LOURO, UM MOURO, UM MICO,
E UM SENHOR DE PORTO RICO


Trad. Fábio Aristimunho

Um senhor de Porto Rico
na sacada tinha um louro
emplumado e bom de bico:
um louro a peso de ouro,
desses que só compra um rico.

Um vizinho, que era mouro
de Tetuan, ganhou um mico.
Amarra o mico, o mouro,
na sacada, e fica o louro
na outra, bem longe do mico.

Mas tanto gritava o louro
que um dia se irrita o mico,
e enlouquece como um touro
raivoso... Esconde-se o louro,
destrói a corrente o mico,

salta à gaiola do louro,
sai o louro e bica o mico,
grita o mico, grasna o louro
e, com os berros, sai o mouro
e o senhor de Porto Rico.

– Por que não tranca seu louro?
– Por que não prende seu mico?,
reclamam os dois em coro,
querendo um pegar seu louro
e puxando, o outro, seu mico.

Cai o mico sobre o louro.
O louro lhe crava o bico.
Dentes arreganha o mico
e, arrepiado, morde o mouro
e o senhor de Porto Rico

Este renega seu louro,
jurando matar o mico,
enquanto, furioso, o mouro
provoca o dono do louro
e enfurece louro e mico.

Vai, cabeça erguida, o louro;
sai, cabeça baixa, o mico;
e a eles todos o decoro
faltando, atracam-se o mouro
e o senhor de Porto Rico.

¡Ay, moro, si pierdo el loro!,
lhe diz o de Porto Rico.
Responde, ultrajado, o mouro:
– Pagará bem caro o louro,
ó cristão, se perco o mico!

Do alto desafia o louro,
faz careta, embaixo, o mico,
e não se sabe se é o mouro
quem fala, ou então se é o louro,
ou o senhor de Porto Rico.

Cresce a zorra; voa o louro,
cai na rua sobre o mico...
Se assusta o de Porto Rico,
ao ver em perigo o louro
novamente pelo mico!

Escapa às pressas do mouro.
Entra e dá um tiro no mico,
porém erra e mata o louro...
Cai desmaiado. Ri o mouro,
que corre buscar seu mico.

Esperto, retorna o mouro
com o louro morto e o mico.
Ajuda o de Porto Rico...
E depois lhe envia o louro,
com uma carta, pelo mico,

que diz: “Seis onças em ouro
pelo ataque contra o mico,
de um cristão exige um mouro.
Guarde, dissecado, o louro.
Mas agora pague o mico”.

Vê isso o dono do louro
e se volta contra o mico.
Mata o mico, mata o mouro.
Mortos mouro, mico e louro,
vai-se embora... a Porto Rico!


O original:

UN LLORO, UN MORO, UN MICO,
I UN SENYOR DE PUERTO RICO


Anònim

Un senyor de Puerto Rico
al balcó tenia un lloro
de rica ploma i bon pico:
un lloro dels que fan
oro,
dels lloros que costen pico.

Un veí seu, que era moro,
de Tetuan, va rebre un mico.
Amarra aquest mico, el moro,
al balcó, quedant el lloro
a l’altre, però lluny del mico.

Mes tan i tan xerrà el lloro,
que un dia s’empipa el mico,
i amb rabiós alè de toro
l’embesteix. S’amaga el lloro,
trenca la cadena el mico,

salta a la gàbia del lloro,
surt el lloro, pica al mico,
xiscla el mico, xerra el lloro
i, amb l’esvalot, surt el moro
i el senyor de Puerto Rico.

– Per què no tanca el seu lloro?
– Per què no amarra el seu mico? –
Exclamen els dos fent coro,
volguent l’un agafar el lloro
i estirant-li, l’altre, el mico.

Cau el mico sobre el lloro.
El lloro li clava el pico.
Reganya les dents el mico
i, esbarat, mossega el moro
i el senyor de Puerto Rico.

Aquest renega del lloro,
prometent matar el mico,
mentre que, furiós, el moro
provoca l’amo del lloro
i embesteix a lloro i mico.

Cap amunt s’enfila el lloro,
cap avall s’escorre el mico
i, faltant tots al decoro,
agarrats queden el moro
i el senyor de Puerto Rico.

¡Ay, moro, si pierdo el loro!
li diu el de Puerto Rico.
Replica, cremat, el moro:
- Pagaràs ben car el lloro,
oh, cristià!, si es perd el mico.

A dalt l’escarneix el lloro,
a baix, fa mueques el mico,
i no se sap si és el moro
el que parla, o be és el lloro,
o el senyor de Puerto Rico.

Creix el brogit; vola el lloro,
cau al carrer sobre el mico...
Burrango el de Puerto Rico,
veient-se amb perill el lloro,
altre volta sobre el mico!

Es desfà com pot del moro.
Entra i pega un tiro al mico,
però l’erra i mata el lloro.
Cau desmaiat. Riu el moro
i fuig a buscar el mico.

Eixerit, retorna el moro
amb el lloro mort i el mico.
Auxilia el de Puerto Rico...
I després li envia el lloro
amb una carta, pel mico,

que diu: “
Seis onzas en oro
per l’atemptat contra el mico,
d’un cristià reclama un moro.
Guardi’s, dissecat, el lloro.
Pagui’m ara, a mi, aquest pico”.

Veu això l’amo del lloro.
Es tira damunt del mico.
Mata el mico, mata el moro,
i, mort moro, mico i lloro,
fa un farcell... i a Puerto Rico!

5 comentários:

Anônimo disse...

Snoop, excelente sua tradução! Engraçadíssimo (e muito colorido) o poema catalão!
Fiquei aqui, no intervalo do caos, a imaginar o velho do realejo que ficava na pracinha em frente de casa aos domingos...O louro dele era atrevido que só!!! *Rs.

Beijos!

ana rüsche disse...

ainda não li o poema pq usei lente o dia inteiro, ontem a balada foi destruidora (depois conto) e meu olho está ruim.

vim fiscalizar se vc tá cuidando do medianeiro.

beijo

felipe oliva disse...

fábio, adorei o poema, vou procurar a pronúncia do catalão pra poder saber como soa n'original. tuve una profe catalana, Pilar, qué añoranzas...

mto legal teu blógui. ah, o ioárrim tem atualizado o dele, talidomida.blogspot.com, tanto a ponto de o censurarem no google, não é elogioso?

abraço

Thiago Ponce de Moraes disse...

Opa, não sei se disse o nome do livro: Imp.!

Como está por aí?

Um abraço;

Ponce.

carme disse...

com um pouco de retrasso... o grupo chama-se "dijous paella", podes descargar a cançao grátis em dijouspaella.com, é muito bonita