FAZ-SE O CAMINHO AO ANDAR
COL. POESIAS DE ESPANHA: DAS ORIGENS À GUERRA CIVIL
Organização e tradução de Fábio Aristimunho Vargas. Hedra
O bom tradutor, assim como o melhor bailarino, é aquele que esconde a ideia de esforço e manifesta sua arte por meio da simplicidade. A nov Coleção Poesias de Espanha contém quatro volumes dessa simplicidade espantosa, divididos conforme as línguas de origem: Poesia espanhola, Poesia catalã, Poesia galega e Poesia basca – do século XII até o marco da Guerra Civil Espanhola, há 70 anos.
Uma coleção organizada com base nas principais línguas da Espanha é inédita, mesmo em castelhano, resquícios talvez da proibição feita até 1975, pelo governo de Franco, às línguas regionais. O tradutor, nascido perto de nossa tríplice fronteira e provavelmente acostumado aos falares castelhanos, guaranis e portugueses em constante tensão, aponta algumas estrelas que brilham nos céus do traçado geográfico espanhol, palmilhando novas constelações e caminhos.
Longe de qualquer monotonia, os poemas são vivos e deliciosos – desde concorridíssimos, como “La aurora” de Federico García Lorca (Aristimunho teve o gostinho de mostrar sua própria tradução) até autores fundamentais menos em voga, como Rosalía de Castro e Lauaxeta, em escolhas tocantes, como “A vaca cega”, de Joan Maragall, e surpreendentes, como a balada “A moça transformada em cervo”, que narra o triste fim da moça feiticeira, morta pelos cães do próprio irmão e servida como iguaria no jantar da família.
A seleção é acompanhada por bons prefácios, guias ortográfico e fonético, assim como notas sobre períodos literários, autores e poemas originais. A revisão é de Miguel Afonso Linhares.
O volume Poesia basca é resultado de pesquisa orientada por Jon Kortazar, catedrático da Universidade do País Basco e Poesia catalã foi premiado pelo instituto catalão Ramon Llull. Talvez dê, sim, para perceber um pouquinho do esforço do caminhante, que faz caminho ao andar.
Ana Rüsche
Escritora
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