12 de dezembro de 2006

Um poema basco

Gabriel Aresti (1933–1975) é o poeta basco mais emblemático da geração que sucedeu à Guerra Civil espanhola. Sua poesia social e engajada rompeu com a poesia de orientação religiosa que dominava até então, com uma linguagem popular e alegorias de apreensão imediata, sempre em defesa da luta social. O próprio poeta, em conformidade com a tradição da literatura basca, costumava fazer versões de sua obra para o espanhol. O poema abaixo é um dos mais conhecidos.

Aproveito para agradecer ao Josune Olabarria, da Euskaltzaindia - Real Academia de la Lengua Vasca, que num e-mail supersimpático me deu importantes orientações sobre a literatura basca.

A CASA DE MEU PAI

Gabriel Aresti, 1963
trad. Fábio Aristimunho


Defenderei
a casa de meu pai.
Contra os lobos,
contra a seca,
contra a usura,
contra a justiça,
defenderei
a casa
de meu pai.
Perderei
o gado,
as plantações,
os pinheirais;
perderei
os juros,
as rendas,
os dividendos,
mas defenderei a casa de meu pai.
Me tirarão as armas
e com as mãos defenderei
a casa de meu pai;
me cortarão as mãos
e com os braços defenderei
a casa de meu pai;
me deixarão
sem braços,
sem ombros
e sem peitos,
e com a alma defenderei
a casa de meu pai.
Morrerei,
a minha alma se perderá,
a minha prole se perderá,
mas a casa de meu pai
permanecerá
em pé.


Os originais:

NIRE AITAREN ETXEA

Gabriel Aresti, 1963

Nire aitaren etxea
defendituko dut.
Otsoen kontra,
sikatearen kontra,
lukurreriaren kontra,
justiziaren kontra,
defenditu
eginen dut
nire aitaren etxea.
Galduko ditut
aziendak,
soloak,
pinudiak;
galduko ditut
korrituak,
errentak,
interesak,
baina nire aitaren etxea defendituko dut.
Harmak kenduko dizkidate,
eta eskuarekin defendituko dut
nire aitaren etxea;
eskuak ebakiko dizkidate,
eta besoarekin defendituko dut
nire aitaren etxea;
besorik gabe,
sorbaldik gabe,
bularrik gabe
utziko naute,
eta arimarekin defendituko dut
nire aitaren etxea.
Ni hilen naiz,
nire arima galduko da,
nire askazia galduko da,
baina nire aitaren etxeak
iraunen du
zutik.


LA CASA DE MI PADRE

Gabriel Aresti, 1963

Defenderé
la casa de mi padre.
Contra los lobos,
contra la sequía,
contra la usura,
contra la justicia,
defenderé
la casa
de mi padre.
Perderé
los ganados,
los huertos,
los pinares;
perderé
los intereses,
las rentas,
los dividendos,
pero defenderé la casa de mi padre.
Me quitarán las armas
y con las manos defenderé
la casa de mi padre;
me cortarán las manos
y con los brazos defenderé
la casa de mi padre;
me dejarán
sin brazos,
sin hombros
y sin pechos,
y con el alma defenderé
la casa de mi padre.
Me moriré,
se perderá mi alma,
se perderá mi prole,
pero la casa de mi padre
seguirá
en pie.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ah eh, Fabão, agora somos dois a divulgar a poesia basca no brasil! Parabéns, eu havia lido esse poema na rede, ótimo, boa introdução, é isso mesmo, há momentos em que língua, povo e poesia se unem. Abraços

Anônimo disse...

"Nire aitaren etxea..." fué traducida por Adelino Gomes al portugués en una edición multilingüe editada en Tübingen (1984):

Defenderei
a casa de meu pai.
Contra os lobos,
contra a seca,
contra a usura,
contra a justiça
defenderei
a casa de meu pai.

Perderei
o gado,
os campos,
os pinhais;
perderei
os dividendos,
os rendimentos,
os juros,
mas defenderei a casa de meu pai.

Tirar-me-ao as armas,
e com as maos
defenderei a casa de meu pai;
cortar-me-ao-as maos,
e com os braços
defenderei a casa de meu pai;
deixar-me-ao
sem braços,
sem peitos,
e com e alma
defenderei a casa de meu pai.

Morrerei
a minha alma perder-se-á,
a minha prole perder-se-á,
mas a casa de meu pai
permanecerá
em pé.

Fábio Aristimunho disse...

Gracias, Josune. Pero hay un detalle que no me gusta mucho en esta traducción: el empleo de mesóclises (tirar-me-ão etc.), que es recurso sintático legítimo en portugués pero que ya no es empleado en el lenguaje popular tanto en Brasil como en Portugal. Teniendo en cuenta que Aresti buscaba sobretodo el lenguaje popular, creo que el empleo de consctrucciones como aquellas aparta la traducción de una de las características esenciales del poema original. ¿Qué le parece?
Saludos

ana rüsche disse...

adorei, snp! parabéns! - e o comentário acima, ah, a tua cara a justificativa das mesóclises, concordo.

besitos

Anônimo disse...

Olha aí FAV:

http://zubitegia.armiarma.com/
http://perso.wanadoo.es/lipmic/Arreu/basc/index.htm
http://www.basquepoetry.net/aurki-e/20.htm