6 de outubro de 2006

Dia(s) do poeta

Existe dia pra tudo, se pra tudo existe um dia. Até o poeta (olha o palíndromo!) tem seu dia. Mas que todo dia devia ser dia do poeta, alguns talvez dirão; já outros, com complexo de cacto, diriam certamente que nenhum dia é bom pra ser poeta, hoje em dia. O fato é que existem nada menos que dois dias do poeta no calendário oficial, ambos no mês de outubro: um regional e tradicional, dia 4, e outro “mundial”, dia 20. Não faço idéia do porquê dessas datas.

Eis que no dia 4 recebo um telefonema da minha irmã Tania, de Foz do Iguaçu, me dando parabéns pelo dia e pela entrevista no jornal. Entrevista? Que eu soubesse não tinha dado, pelo menos não sóbrio. Mando um e-mail para o jornal e descubro que a Daniela Valiente, simpatissíssima jornalista da pauta cultural, reaproveitou umas partes da entrevista que fizemos no ano passado, quando lancei meu Medianeira em Foz. Ah, bom.

Assim, em atrasada (ou adiantada) lembrança ao dia do poeta, reproduzo a seguir a íntegra do referido artigo, já agradecendo à autora pelo inesperado recuerdo.

Carpe diem!

*

No Dia do Poeta, escritores ensinam como fazer um belo verso cheio de sentimentos

Daniela Valiente

Um poeta é um homem trancado dentro de um mundo, disse uma vez um pensador. Mas esse mundo não é o mesmo de todos. Ele traz a força de muitas palavras e o talento de colocá-las a serviço dos sentimentos. No Dia do Poeta, o Caderno 2 faz uma homenagem a todos os poetas que vivem nesse mundo tão cheio de realidade , e mesmo assim conseguem fazer do silêncio, uma bela e fina prosa.
Para fazer poesia, o escritor pode tentar seguindo algumas regras, mas geralmente ela surge num impulso. Não havendo receita para colocar as palavras de acordo com o que se sente, é preciso sensibilidade. Para cada poeta descoberto, e não citamos os medalhões, basta um sentimento, para fazer aflorar, versos, estrofes e rimas.
Cada qual com sua técnica, afirmam para fazer poesia é preciso estar distraído, tal como fez Clarice Lispector. Para a poetisa Jeane Hanauer, a poesia a tomo de assalto, numa espécie de susto, “quando dei por mim já havia escrito”. Sensível, ardente, feminina e voraz, as palavras trouxeram a Jeanne a possibilidade de expressar o turbilhão de diferentes sentimentos.
Como marca registrada, o poeta revela-se através de suas intenções. Como fez o poeta Nilton Bobato, ao revelar; “a poesia é praga que gruda na gente”. E gruda mesmo, como um uma tatuagem inacabada, precisa sair de dentro de cada um para ver sua imagem estampada no papel.Sem tempo marcado, a poesia, ou a vontade em se fazer poesia surge em momentos inesperados e até mesmo sem nenhum conhecimento sobre a técnica é preciso ter e papel e caneta por perto.
Marizete Zanon, poetisa premiada diz ter começado com essa amizade muito cedo. “Comecei a me interessar por poesia aos sete anos de idade”, comenta. Mas o gosto surgiu prematuro porque veio de dentro de casa. Seu avô gaúcho era poeta e trovador e foi o único a incentiva-la. “Ninguém dava bola”, lembra bem humorada. Hoje muito mudou em sua poesia. “Teve o amadurecimento do sentimento. Hoje a poesia é minha confissão”.
Por tocar em diversos temas, a poesia, segundo Marizete possibilita a conversa íntima de assuntos que vão do romantismo ao épico, do lírico ao social.
A poetisa teve na formação de seus versos uma ajuda muito especial além do avô. Mário Quintana. “Lia muito o que ele escrevia toda vez que podia passava em frente da casa dele em Porto Alegre. Sempre estava lá sentado na varanda”, lembra. Mas a aproximação nunca passou de longos olhares da adolescente. “Eu ficava olhando, mas ele era muito mal humorado”.
Quintana sabia o que fazia, e quem influenciava. Ele mesmo escreveu: “eu sou um homem fechado. O mundo me tornou egoísta e mau. E a minha poesia é um vício triste, desesperado e solitário. Que eu faço tudo por desabafar”.
Marizete aprendeu a lição e hoje confirma que para se fazer poesia , seguindo uma receita, basta misturar sofrimento, à alegria, à guerra de convenções e uma pitada de ironia.
Outro poeta, Fábio Aristimunho Vargas, revela o mesmo sentimento ao declarar que a poesia depois de pronta cria vida. “Ela cria independência. É o receptor que define seu valor e sua função. Afinal poesia é uma necessidade intrínseca, por ser arte não tem valor em si, ela envolve um complexo de valores humanos. Por isso não se pode dizer que é boa por isso ou por aquilo”.
Portanto não basta vontade é preciso permanecer intocável pelas partículas mínimas de sentimento que formam a poesia. Não basta querê-la é preciso também merecê-la.Na doce ou ardorosa convivência entre poeta e composição, Quintana também ensina mais uma lição; “Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, não quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio...”.

(Gazeta do Iguaçu, 04 de outubro de 2006)

4 comentários:

ana rüsche disse...

oi, snp!

que legal - agora eu é que me recuerdo de foz.

beijinhos e parabéns

Anônimo disse...

Fabião, não te abandonamos. Apenas estamos numa fase contemplativa!

Abraços,

GG

Anônimo disse...

Ai, ai, esses amigos pops! Você e a Ana R. sempre surpreendendo as pessoas...(Que bom pra gente!)
E vamos marcar um hh dia desses: quero ver as fotos e entregar o pesente.

Beijos!
Carol

Fábio Aristimunho disse...

Buá, não me abandonem!
Carol, acho que a gente sevê na casa do Altivo no domingo.
Beijos/Abraços